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O café está caro… e o brasileiro está empobrecendo?

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Uma coisa é certa: o café, que sempre foi sinônimo de aconchego, rotina, tradição e até resistência, está começando a sumir da mesa do brasileiro. Segundo dados recentes da ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café), o consumo da bebida caiu quase 16% em abril de 2025, em comparação com o mesmo mês do ano anterior. Não é um erro de digitação. Dezesseis por cento. Estamos falando de milhões de xícaras a menos. O que está acontecendo com o país do café?

Segundo a própria ABIC, o primeiro quadrimestre deste ano apresentou uma retração de mais de 5% no consumo, com 256 mil sacas a menos comercializadas em relação ao mesmo período de 2024. E o motivo? Não é só uma mudança de gosto do consumidor, como alguns otimistas tentam fazer parecer. A verdade é mais amarga que o café sem açúcar: o povo não está conseguindo pagar.

O preço do café subiu mais de 80% no intervalo de um ano. A alta nos custos foi puxada por problemas climáticos: secas, ondas de calor, perdas na produção e, para piorar, por uma maior demanda internacional. Países como a China estão começando a beber mais café, e, com o grão ficando mais raro, o preço dispara. Mas a pergunta que não quer calar: o Brasil não era o maior produtor de café do mundo? Como é que o brasileiro não está conseguindo consumir o que ele mesmo planta?

Enquanto o café sobe, o poder de compra desce. O IBGE já confirmou: os preços subiram bem acima da média da inflação. E o salário real do trabalhador? Fica pra trás, como sempre. O que estamos vendo é mais um símbolo da vida cotidiana virando item de luxo. O cafezinho da tarde já virou “experiência gastronômica”. O espresso virou indulgência. O coado, uma saudade. E o refil gratuito? Um milagre.

O problema não está só no café. Está no que ele representa. Quando o brasileiro começa a pensar duas vezes antes de tomar um café, é sinal de que algo mais profundo está sendo corroído. É sinal de que o básico já começa a pesar no orçamento. É um retrato do empobrecimento silencioso que vem se intensificando: o Brasil está ficando mais pobre. Sim, mais pobre do que ontem. Mais pobre em relação a si mesmo e, principalmente, mais pobre em relação ao resto do mundo.

Mas parece que está tudo bem, né? Tá tudo certo, afinal o PIB subiu, o país está “crescendo”. Mas o café sumiu da xícara. E ninguém parece muito preocupado com isso. Será que estamos normalizando o inaceitável? Ou só estamos ocupados demais tentando sobreviver para perceber que não podemos mais tomar um simples café em paz?

O Brasil, que sempre se orgulhou de ser a pátria do café, está agora assistindo ao símbolo da sua hospitalidade e da sua rotina cotidiana ser engolido pelos números da inflação e pela lógica fria do mercado. A pergunta é simples: vamos continuar achando normal?

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