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Diversidade no conselho: mais que uma tendência, um motor para resultados financeiros

Estudos nacionais e a prática de mercado mostram que a pluralidade de visões no topo da governança corporativa está diretamente ligada a maior inovação, melhor gestão de riscos e aumento da lucratividade.

Por Andreia Arantes, Jornalista Corporativa

São Paulo – A discussão sobre diversidade nos conselhos de administração deixou de ser um debate sobre imagem corporativa para se tornar uma pauta estratégica e de desempenho. Se antes o tema era visto por alguns como uma mera obrigação social, hoje, a ausência de um conselho plural é interpretada pelo mercado como um sinal de alerta e um potencial risco para o negócio.

A razão para essa mudança de percepção é baseada em dados. Empresas com uma composição de conselho mais diversa não são somente mais justas socialmente; são mais inteligentes, inovadoras e, em última análise, mais lucrativas. Ignorar essa realidade é renunciar a uma vantagem competitiva crucial.

A seguir, detalhamos os benefícios estratégicos, suportados por pesquisas nacionais, que explicam por que um conselho diverso gera mais resultados.

1. Melhor tomada de decisão e o fim do “pensamento de grupo”

O maior inimigo de uma estratégia resiliente é o “groupthink” (pensamento de grupo), fenômeno que ocorre quando membros de um grupo com origens e visões de mundo similares reforçam os mesmos vieses, evitando o dissenso e ignorando riscos latentes. A diversidade de gênero, etnia, idade e, fundamentalmente, de competências e experiências profissionais funciona como um antídoto direto, forçando um debate mais rico e decisões mais bem fundamentadas.

2. Aumento da inovação e da capacidade de adaptação.

A inovação nasce da colisão e combinação de ideias distintas. Um conselho com um repertório coletivo mais amplo, fruto de diferentes trajetórias, tem maior capacidade de identificar tendências emergentes e encontrar soluções criativas. Como destaca o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), a diversidade de competências é essencial para o conselho poder navegar em um ambiente de negócios em constante mudança e gerar valor de forma sustentável.

3. Maior conexão com um mercado diverso

Uma empresa não existe em uma bolha. Seus clientes, colaboradores e a sociedade são plurais. Um conselho que não reflete minimamente essa diversidade corre o risco de se desconectar da realidade e das necessidades de seus stakeholders. Isso impacta a reputação da marca, a lealdade dos consumidores e, crucialmente, a capacidade de atrair e reter os melhores talentos, que buscam cada vez mais ambientes de trabalho com os quais se identificam.

4. Desempenho financeiro superior comprovado

Este é o argumento decisivo. Pesquisas realizadas no Brasil já comprovam a forte correlação entre diversidade na liderança e desempenho financeira. Um estudo realizado pela B3, a bolsa do Brasil, em parceria com o IFC (do Banco Mundial), por exemplo, revelou que as empresas listadas com maior percentual de mulheres em seus conselhos de administração apresentaram maior rentabilidade (medida pelo ROE – Retorno sobre o Patrimônio).

Da mesma forma, a própria B3 criou o índice IDIVERSA B3, que acompanha o desempenho das empresas que se destacam em diversidade de gênero e raça. A existência de um índice como este é a prova de que o mercado financeiro já reconhece a diversidade não somente como um valor social, mas como um indicador de boa gestão e potencial de retorno financeiro.

Em resumo, a evidência é clara. Investir na diversidade do conselho deixou de ser uma pauta secundária para se tornar um pilar de uma governança moderna e inteligente. As organizações que tratam a pluralidade não como uma formalidade, mas como um ativo estratégico, não estão somente construindo um negócio mais justo, mas um negócio mais forte e preparado para o futuro.